A casca do ovo se rompeu. Enfim aproxima-se a, tão esperada, luz. Por mais que aquela cúpula territorial, segura e quente, tenha me sustentado por muito tempo agora chegou a hora de aceitar a mudança. O mesmo brinquedo que antes valia suspiros de alegria, agora de nada vale. O abraço amistoso já não é o suficiente. A necessidade de respirar novos ares leva-me a crer que a ruptura da insensível casca foi a melhor coisa que acontecera. Contudo nada mais sou além de um copo, bem servido, de puro medo. O desconhecido enfim chegou e arrebatou-me de uma maneira insana. Não pude ceder. Aqueles olhos atraentes, que esbanjavam subjetividade, mantinham os meus fixados de modo que minha pequena caverna se tornou pouco mais que um ponto de partida para um leque de caminhos ainda não conhecidos.
Ao se conhecer o destino cria-se uma sensação de segurança e o contrário gera o medo. Ao lidar com o medo consegue-se o autocontrole o que no fim irá gerar segurança. Mais o que seria o autocontrole? Seria ele saber decidir o que se quer ou aprender a não ceder às próprias vontades? Ao sair daquele ovo, onde vivi durante anos, confesso que me deparei com um grande ser antagonista: eu. Minhas vontades e meus valores se contradiziam e concorriam na determinação das minhas ações. Foi aí então que descobri que não era somente o que eu via, do lado de fora, que era novo. Eu também havia sido renovado. Quando tentei uma auto-analise constatei que eu era um estranho. Deparei-me novamente com o desconhecido e então senti medo daquele “Eu”. A falta de segurança e de previsibilidade das minhas atitudes e pensamentos, algumas vezes voluptuosos, obrigou-me a prestar atenção de verdade no que havia em meu interior. Sempre quis quebrar aquela casca impune, mas confesso que aguardei ações externas, numa tentativa de não conhecer o sentimento de culpa. Perdi muito tempo em busca de um ideal utópico de normalidade enquanto os que eu julgava “normais” se mostravam completamente loucos. Eu achava que conhecia o caminho do paraíso quando, na verdade, aquela casca tapava minha visão. Hoje enxergo de uma forma diferente. Não preciso de fatores externos e muito menos de jugos alheios para determinar o que sou. Agora já não me encanta ou surpreende a beleza e a magia do outro e sim beleza e a magia do iluminado reflexo no espelho.