E ao ver a angústia de Miro, Saluh decide contar-lhe a sua história. Talvez suas experiências pudessem ajudá-lo. Talvez corrompê-lo iria... Contudo, chegara à hora da verdade ser anunciada a mais um desprovido de sorte ou simpatia do destino.
- Procurei uma forma de me esconder. Não mostrar minha face. Não falar meus pensamentos. Conduzi-me por um caminho belo, porém meus olhos não podiam vislumbrá-lo. Minha mente fechada e conflituosa. Tomei decisões erradas e o precipício de minha fronte se aproximava. O escuro guardava um segredo. Se meus olhos falassem... Se meus sentidos se expressassem... Se meu coração se deixasse levar pela intensa emoção a qual me submetia de tempos em tempos através das lembranças... Sim, as lembranças. O erro cometido e a vitória uma vez conquistada. Puro delírio de uma mente desvairada. O crime que dava prazer e que satisfazia, escondi com medo da penalidade. Não penses tu, caro aprendiz, que foi apenas um conflito adolescente. Pois não foi. Mas esse é um erro comum e, assim como eu, o escondem até de si mesmos. Pior que o julgo de outrem é o “auto-julgo”.
- E então, mestre Saluh... O que fez?
- Decidi viver! Se eu for julgado e condenado, de nada me arrependerei. Sou culpado e calado não mais ficarei. Além dos crimes que cometi, também outros criei. É como um vício que não largo por querer continuá-lo. Digo e repito a quem quiser ouvir que viverei!
- Também quero viver. Sei que sou jovem para decidir, pequeno de mais para me impor. Sei que sou um mero aprendiz que o mundo ainda não conheceu. Sei de muitas coisas que me limitariam, mas mesmo assim quero viver.
- Quem me dera tivesse tal maturidade com tão pouca idade. Digo-lhe apenas algumas coisas antes de encerrar nosso diálogo: O mais importante, antes mesmo de seres quem és é saberes o quê quer. Não ligue para conceitos formados, pré-fabricados e, durante anos, manipulados. De nada servem se visão não tiveres. Veja no escuro, no oculto, na vastidão da sua mente o que sente independente do que vier a ocorrer. Viver na sobra de um ideal alheio e como não viver. Se tu queres viver de verdade, lutes pelos próprios ideais, mesmo que pra isso tenhas que morrer.